Na região Potengi, um "exemplo" de rodovia estadual na gestão Fátima
A primeira-dama, Janja Lula da Silva, tem ocupado o posto de principal conselheira do 3º mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). É uma das poucas pessoas que faz críticas e alertas sobre a condução do governo. A função é reconhecida pelo próprio chefe do Executivo, que montou a cúpula da sua administração com ministros que não fizeram parte de sua trajetória política e, por isso, não têm liberdade para dar “palpites ao chefe”.
Como mostrou o Poder360, quem deseja conversar com Lula à noite e em fins de semana, quando o casal está no Palácio do Alvorada, tem de passar pelo crivo da primeira-dama. O petista não tem um celular próprio e conta com a ajuda da mulher para fazer e receber ligações. Embora pareça uma tarefa ordinária, o filtro mostra a influência de Janja.
A situação foi explicitada por Lula em seu discurso na abertura da 4ª Conferência Nacional de Cultura, na 2ª feira (8.mar.2024). “Estou feliz sobretudo pelo lado crítico da Janja. Não é uma ‘Maria vai com as outras’. Não é um ‘Zé Ninguém’. Ela faz questão de me alertar das coisas ruins. Das coisas boas não precisa porque eu vejo na cara de vocês. Mas as coisas ruins, muitas vezes, mesmo os amigos da gente não têm coragem de dizer. ‘Ah, eu vou falar tal coisa, o Lula vai ficar ofendido, ele vai ficar chateado’”, declarou.
O presidente disse considerar o papel exercido por Janja como “muito importante”.
“Alguém tem que dizer para vocês das coisas que não estão legais. Alguém tem que ter coragem de puxar o paletó e falar: ‘Não vai, ou vai’. Tem que ter alguém assim e ela faz isso”, disse.
Nos seus 2 primeiros mandatos (2003-2010), Lula levou ao Palácio do Planalto antigos companheiros do PT que trilharam o caminho político com ele. Tinha ao seu lado nomes como José Dirceu e Gilberto Carvalho, o último era conhecido pelo apelido de “grilo falante”. Amigos Luiz Gushiken (1950-2013) e Márcio Thomaz Bastos (1935-2014), ambos já falecidos, também eram próximos e o aconselhavam. Todos tinham liberdade para tratá-lo informalmente e “dar broncas”. Enfrentavam eventuais rompantes do chefe, mas, por vezes, o faziam mudar de ideia.
Afastado desde que foi preso nos processos do Mensalão e da Lava Jato, Dirceu voltou a circular pelos meios políticos de Brasília e envia recados ao presidente. Ainda assim, a influência nas decisões do chefe do Executivo é muito inferior ao que já foi nos outros mandatos. Carvalho foi escanteado do convívio diário e assumiu a Secretaria de Economia Solidária no Ministério do Trabalho.
Para o 3º mandato, Lula preferiu “renovar o time”. Disse logo depois de ter sido eleito que o “técnico poderia ser velho, mas os jogadores precisariam ser novos”. A consequência, porém, é que nenhum dos ministros mais próximos têm liberdade para contestar o presidente.
Poucos dias depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter expressado confiança em que a Venezuela terá eleições presidenciais democráticas este ano e, na mesma fala, ter afirmado que a oposição ao governo de Nicolás Maduro deveria deixar de “chorar”, o presidente do Chile, Gabriel Boric, reiterou sua denúncia sobre violações dos direitos humanos e políticos na Venezuela.
Após reunir-se com o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, na última sexta-feira, o chefe de Estado chileno foi enfático ao falar sobre a Venezuela de Maduro, abordando temas que Lula evita mencionar, especialmente a repressão a opositores do governo. Boric iniciou suas declarações comentando o assassinato do ex-militar venezuelano Ronald Ojeda em Santiago, recentemente, caso que causou enorme preocupação no Palácio de la Moneda. Ojeda, que fugiu da Venezuela após ter estado preso e ter sido acusado de traição à Pátria pelo governo Maduro, foi sequestrado no apartamento onde morava na capital chilena e apareceu morto alguns dias depois.
— Fui muito crítico, e não apenas crítico, denunciei em foros internacionais as violações dos direitos humanos de um regime que, sem dúvidas, tornou-se autoritário, como é o regime venezuelano — disse Boric. — Nós, como governo, buscamos colaborar para que seja recuperado um rumo democrático, e para que as eleições que devem ser realizadas este ano cumpram com todas as garantias para todos os setores políticos na Venezuela — continuou.
O presidente do Chile defendeu sua posição, que se contrapõe abertamente a de Lula:
— A posição do Estado chileno é coerente, tanto sobre o que acontece na Venezuela, o que acontece na Ucrânia, ou o que acontece hoje em dia em Gaza. Não tenho nenhum problema em continuar reafirmando isso, mesmo que cause moléstia, mas a coerência é um valor fundamental nesses aspectos.
Na quarta-feira, Lula fez um paralelo entre a oposição venezuelana e as eleições presidenciais brasileiras de 2018, quando foi impedido de concorrer porque estava preso em decorrência da Operação Lava Jato. O petista afirmou que, ao ter a candidatura vetada, “ao invés de ficar chorando”, indicou outro candidato para a disputa (o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que foi derrotado por Jair Bolsonaro). Questionado se é possível ter uma eleição justa no contexto atual do país, Lula ainda afirmou que olheiros do mundo inteiro foram convidados a acompanhar o pleito, embora tenha ressaltado que, se a oposição na Venezuela tiver o mesmo comportamento da brasileira, “nada vale”.
— Sabe que eu fiquei feliz que foi marcada eleição na Venezuela. O que disseram na reunião que tive na Guiana é que vão convidar olheiros do mundo inteiro. Mas se o candidato da oposição tiver o mesmo comportamento da oposição daqui, nada vale — afirmou Lula.
Opositora de Maduro na Venezuela rebate Lula
Principal opositora do presidente venezuelano e impedida de concorrer às eleições de julho, María Corina Machado rebateu as declarações de Lula e disse que o presidente brasileiro estava “validando os abusos de um autocrata que viola a Constituição”.
Entrevista: ‘Posição de Lula sobre Venezuela é inadmissível a esta altura do jogo’, diz María Corina Machado, líder opositora inabilitada, ao GLOBO
“Eu chorando, presidente Lula? Você está dizendo isso porque sou mulher? Você não me conhece. Luto para fazer valer o direito de milhões de venezuelanos que votaram em mim nas primárias e dos milhões que têm o direito de fazê-lo numa eleição presidencial livre em que derrotarei Maduro”, respondeu María Corina no X (antigo Twitter). “O senhor está validando os abusos de um autocrata que viola a Constituição e o Acordo de Barbados, que o senhor afirma apoiar. A única verdade é que Maduro tem medo de me confrontar porque sabe que o povo venezuelano está hoje na rua comigo”.
A realização de eleições livres, justas e transparentes ainda este ano fazia parte do acordo firmado em Barbados, no fim do ano passado, entre governo e oposição venezuelana, com a presença de observadores internacionais. Uma das cláusulas previstas no documento exigia que os candidatos contrários a Maduro tivessem permissão para recorrer de decisões judiciais que os desqualificassem para o cargo.
Em janeiro, no entanto, o Tribunal Supremo da Venezuela ratificou a inabilitação da líder opositora por 15 anos, na prática impedindo que ela concorra contra Maduro, que busca mais uma reeleição. Além de María Corina, vencedora de primárias — que posteriormente foram anuladas — em outubro, Henrique Capriles, que concorreu duas vezes à Presidência, também teve sua inabilitação confirmada.
A discussão sobre a descriminalização do aborto entre magistrados do Supremo Tribunal Federal (STF) ganhou um novo capítulo nesta sexta-feira, Dia Internacional da Mulher. O presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, defendeu a pauta durante uma aula magna na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). O ministro afirmou que os direitos à liberdade sexual e reprodutiva das mulheres precisam ser conquistados no país.
— Não se trata de defender o aborto, trata-se de enfrentar esse problema de uma forma mais inteligente que a criminalização, prender a mulher não serve para nada — disse.
Quando ainda era advogado, Barroso fez a sustentação oral de uma ação impetrada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores da Saúde para permitir aborto de fetos anencéfalos. Em dezembro de 2016, já como ministro do STF, em seu voto sobre pedido de habeas corpus para soltura de acusados de praticar aborto, na Primeira Turma da Corte, ele sustentou que a criminalização viola direitos fundamentais.
Saiba como os dez outros ministros da Corte já se posicionaram sobre o tema.
Edson Fachin
Votou a favor do habeas corpus para acusados de praticar aborto em 2016 e acompanhou o voto de Barroso. Em julho de 2022, Fachin afirmou que a política de aborto legal fixada pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro poderia indicar uma “violação sistemática” de direitos das mulheres. Na ocasião, a Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde disponibilizou uma cartilha que dizia que “não existe aborto legal”.
Gilmar Mendes
Votou a favor do aborto de fetos anencéfalos e do uso de células-tronco para pesquisas. Mas criticou Barroso quando este afirmou que a criminalização do aborto até os três meses fere direitos fundamentais.
— Ah, agora, eu vou dar uma de esperto e vou conseguir a decisão do aborto — pontuou Mendes na ocasião.
Foi quando Barroso devolveu com declarações de ampla repercussão:
— Me deixa de fora desse seu mau sentimento, você é uma pessoa horrível, uma mistura do mal com atraso e pitadas de psicopatia. Isso não tem nada a ver com o que está sendo julgado. É um absurdo vossa excelência vir aqui fazer um comício cheio de ofensas, grosserias. Vossa excelência não consegue articular um argumento, fica procurando, já ofendeu a presidente, já ofendeu o ministro Fux, agora chegou a mim. A vida para vossa excelência é ofender as pessoas, não tem nenhuma ideia, nenhuma, nenhuma, só ofende as pessoas.
Luiz Fux
Também votou a favor do aborto de anencéfalos. Em entrevistas, já disse considerar o assunto do Legislativo, mas pondera que é uma “questão de saúde pública e não de direito penal”.
Alexandre de Moraes
Em entrevistas, já defendeu o aborto em caso de estupro, o que já é permitido, mas evitou falar sobre o tema quando foi sabatinado no Senado, em fevereiro de 2017. Na ocasião, o ministro pediu desculpas por não falar sobre a questão e argumentou que havia ações sobre o tema no Supremo, como a que permitiria a prática em casos de microcefalia.
Dias Toffoli
Como advogado-geral da União, deu parecer favorável ao aborto de fetos anencéfalos. Antes do cargo no STF, se declarou favorável à descriminalização do aborto até três meses.
Cármen Lúcia
A ministra votou a favor do aborto de fetos anencéfalos em 2012 e da pesquisa com células-tronco de embriões quatro anos antes. Nas duas ações, porém, a magistrada deixou claro que a questão do aborto não estava sendo avaliada. Em 2018, ela afirmou esperar “tolerância quanto à compreensão diferente dos temas” ao abrir audiência que tratou sobre a descriminalização da interrupção da gravidez até a 12ª semana de gestação.
Kassio Nunes Marques
O ministro se posiciona contra a descriminalização do aborto. Quando foi sabatinado no Senado, em 2020, Marques citou um salmo e afirmou ser “defensor do direito à vida” ao ser questionado sobre sua posição em relação a direitos reprodutivos.
André Mendonça
Durante a discussão de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade que debatia o direito de mulheres infectadas pelo vírus zika interromperem a gravidez, Mendonça, então advogado-geral da União, afirmou que a medida era inconstitucional e afrontava o direito à vida:
— Lamentável. Um retrocesso para a sociedade. O pedido se trata do estabelecimento e da constitucionalização de uma segregação das espécies, que foi presente no regime nazista.
Cristiano Zanin
Durante sabatina no Senado, em 2023, Zanin reiterou compromisso contrário à legalização do aborto. Zanin defendeu a continuidade do que já é previsto em lei e fez discurso pró-vida:
— O direito à vida está previsto no antigo 5º da Constituição, é uma garantia fundamental. Nesta perspectiva, temos que enaltecer o direito à vida. As hipóteses de interrupção (do aborto) estão previstos no Código Federal.
Flávio Dino
Em 2022, pouco antes do período eleitoral, Dino afirmou ser “filosoficamente” contra o aborto e defendeu que a legislação atual não seja alterada.
— Eu sou filosoficamente, doutrinariamente, contra o aborto, e acho que a Legislação brasileira não deve ser mexida nesse aspecto — afirmou, em entrevista ao jornal Valor Econômico em abril de 2022.
Durante sabatina no Senado, o ministro disse que o direito ao aborto deve ser debatido pelo Congresso Nacional e não por meio de uma decisão judicial.
— Em relação ao tema do aborto, a minha posição é pública, bastante antiga, reiterada em sucessivas entrevistas. Eu, assim como Norberto Bobbio, tenho uma posição jurídica no sentido de que o sistema legal pode ser debatido no Congresso Nacional. Eu não imagino realmente que é o caso de uma decisão judicial sobre, e sim de um debate no Parlamento — frisou.