A alergia é uma resposta do sistema imunológico a variados elementos que entram em contato com o organismo. Apesar desse conjunto de reações ter as mais diferentes origens, o número de pessoas afetadas por elas pode crescer de uma forma preocupante nos próximos anos. Segundo a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), até 2050, cerca de 50% da população terá algum tipo de alergia. Mudanças climáticas, aumento da poluição e alimentos ultraprocessados estão entre as possíveis causas do aumento das alergias.
A médica alergista e imunologista Roberta Piccin de Oliveira, ressalta que ninguém nasce alérgico. “Para desenvolver qualquer alergia, é preciso que o indivíduo entre em contato com o alérgeno causador da reação. A alergia é a resposta excessiva do sistema imunológico a substâncias externas”, explica. Ela acredita que o aumento na incidência de doenças alérgicas observadas ultimamente, sugere que mudanças ambientais, dietéticas e de estilo de vida, podem ter importante papel nesse fenômeno.
As mudanças cotidianas afetam diretamente as alergias mais prevalentes na população, como a alimentar, asma, rinite e dermatite atópica. As mudanças climáticas, sobretudo as famosas ondas de calor, podem influir bastante nas alergias respiratórias, segundo Roberta. “O aumento do calor pode causar uma maior permanência dos poluentes no ar, piorando principalmente as doenças respiratórias”, diz.
Ela também faz menção às chuvas, enchentes e inundações cujas ações constantes promovem a proliferação de mofo nas habitações. Esse desequilíbrio climático também chega até as plantas, afetando as estações polínicas. “A gente não sabe até que ponto isso vai alterar na quantidade de pólen que vai ser disseminado para o ambiente. É outro fator que pode desencadear as rinites e também as crises de asma”, diz.
Além da desidratação e da insolação causadas pelas ondas de calor, elas também podem ser nocivas aos pacientes que têm doenças respiratórias, como a asma, a rinite, ressalta a alergista. “O calor dificulta muito a respiração, pois desidrata as nossas secreções, fazendo com que o paciente tenha crises mais intensas. Além disso, quando está muito quente a gente perpetua os poluentes na atmosfera, e isso também prejudica”, alerta.
Em relação às alergias alimentares, Roberta Piccin faz uma alusão às dietas exageradas. “Dietas extremamente restritivas também podem favorecer a uma alergia alimentar quando o paciente for exposto futuramente ao alimento restrito. O uso também de protetores gástricos também alteram a flora intestinal, as bactérias ‘do bem’ que nós usamos no nosso intestino”, explica.
A médica ressalta que qualquer alimento potencialmente pode causar sintomas de alergia, contudo, há um grupo de alimentos que são considerados mais alergênicos que outros, sendo os responsáveis pela maior parte das reações que são registradas hoje em dia. Dentre esses alimentos, segundo Roberta, estão o leite, o ovo, a soja, o trigo, o amendoim, as castanhas, os peixes, e os frutos do mar.
No Brasil não há estatísticas oficiais, porém, a prevalência parece se assemelhar com a literatura internacional, que mostra cerca de 8% das crianças, com até dois anos de idade, e 2% dos adultos com algum tipo de alergia alimentar.
Gatilhos
A dermatite atópica é uma doença inflamatória da pele, que causa coceira intensa, ressecamento e eczema. Ela tem base genética, e afeta até 20% das crianças e cerca de 3% dos adultos. A alergista explica que alguns fatores externos podem ser gatilhos para a exacerbação dessa doença. e para o início de uma crise, como por exemplo, aeroalérgenos que muitas vezes estão no ar, poluentes, até alguns alimentos.
As temperaturas mais altas também podem influenciar na gravidade da dermatite atópica, pois o calor aumenta a vascularização e faz com que os sintomas de prurido, de coceira, e as crises de urticária naqueles pacientes que são mais sensíveis ao calor ou têm uma piora quando transpiram. “Isso acaba exacerbando nessas condições”, diz a médica.
A incidência de alergias também pode ser diminuída por uma mudança de estilo de vida. Roberta cita hábitos saudáveis, como alimentação natural, atividade física e recreativa, ar livre, estímulo à amamentação, uma introdução alimentar de forma variada e gradual a partir dos seis meses de vida, sono adequado, diminuição do uso excessivo e desnecessário de antibióticos. “Quanto maior a diversidade de alimentos que se ofertar após os seis meses de vida do bebê, menor o risco de alergia alimentar”, diz.
O designer Thiago Oliveira tem rinite e asma desde criança, uma “herança” de seu pai, também alérgico. Há ainda a alergia a crustáceos. A convivência com a doença o acostumou a manter os ambientes limpos, sem fumaça, poeira, e livres de ácaros o máximo possível. Mas em tempos de oscilações climáticas, fica difícil de evitar o problema. “Quando chove e a temperatura desce ou sobe, a crise vem com força. É algo que me impede até de trabalhar, preciso tomar remédio e descansar”, diz.
Thiago faz uso eventual de sprays nasais, e também de tratamentos que o fazem ficar sem crises durante alguns meses – mas sempre volta. Quanto à alergia alimentar, ele conta que durante uma época até conseguiu saber o gosto dos crustáceos durante três meses, mas depois os sintomas vieram com tudo. Detalhe: o pai também sofre de alergia alimentar, mas o ingrediente é carne de porco.