
VICTÓRIA CÓCOLO E CAROLINA LINHARES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com seu padrinho Jair Bolsonaro (PL) indiciado pela Polícia Federal na investigação da trama golpista e enfrentando sucessivas crises na segurança pública, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) tem evitado falar com a imprensa sobre esses assuntos.
Tido como sucessor do ex-presidente, que está inelegível, e possível candidato à Presidência da República em 2026, o governador não detalhou o que pensa sobre a apuração da PF segundo a qual Bolsonaro planejou, atuou e teve domínio sobre o plano de golpe.
Na quarta (27), o UOL revelou que Tarcísio esteve no Palácio da Alvorada na tarde de 19 de novembro de 2022, quando Filipe Martins discutiu com Bolsonaro a minuta de golpe, segundo a PF. A assessoria do governador afirma que ele visitou Bolsonaro, mas que não esteve na reunião com Martins.
No dia seguinte à revelação, Tarcísio participou do leilão de concessão da Nova Raposo, mas mais uma vez deixou o local sem atender a jornalistas.
Apesar de ter defendido Bolsonaro por meio de um post nas redes sociais, Tarcísio não comentou, por exemplo, informações trazidas à tona pelo relatório final do inquérito da PF, tornado público na terça-feira (26). A PF afirma, por exemplo, que o ex-presidente tinha conhecimento de um plano para matar Lula (PT), Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
Presente na inauguração de uma metalúrgica em Mogi Guaçu (SP) na manhã da quarta-feira, Tarcísio foi questionado por jornalistas sobre o relatório da PF. No entanto, ele se recusou a responder, e a entrevista à imprensa foi encerrada em seguida.
Na sexta (29), Tarcísio esteve em um evento com Lula, no Palácio do Planalto, para anunciar investimentos em obras de infraestrutura e tampouco falou com a imprensa em Brasília. Enquanto ministros do governo federal discursaram contra a tentativa de golpe e exaltaram a democracia, o governador não mencionou o inquérito da PF e elogiou a parceria nas obras.
Políticos que convivem com Tarcísio lembram que ele construiu uma relação próxima com Moraes, que atua no cerco ao ex-presidente, e que é aconselhado por Gilberto Kassab (PSD), outro nome que evita o embate entre os Poderes, o que explicaria a posição do governador de submergir.
Aliados afirmam que o mandatário tem priorizado uma agenda positiva e quer evitar polêmicas. Para eles, não há vantagens em Tarcísio se manifestar, já que qualquer declaração pode servir a ataques da ala mais bolsonarista da direita ou da oposição.
Na opinião de parlamentares bolsonaristas, Tarcísio quer se preservar para o pleito de 2026 e mostrar ao eleitor de centro que não é golpista. Ao mesmo tempo, como afilhado político, deveria fazer uma defesa mais enfática do ex-presidente e, diante da situação delicada, prefere se abster.
Os deputados mais radicais dizem acreditar que Tarcísio, de forma reservada, tem discordâncias ideológicas com Bolsonaro apesar de ser fiel a ele. Ainda segundo os bolsonaristas, Tarcísio é hoje o candidato do sistema para enfrentar Lula e, por isso, precisa manter uma imagem de ponderado.
Tarcísio tem preferido se manifestar por escrito. Na semana passada, após o indiciamento do ex-presidente, afirmou que "há uma narrativa disseminada contra o presidente Jair Bolsonaro e que carece de provas".
"É preciso ser muito responsável sobre acusações graves como essa", diz o post com distorções e omissões sobre o golpismo bolsonarista.
Tarcísio tem mantido o silêncio desde o fim das eleições municipais. Naquele momento, evitava repercutir a declaração que deu no dia da votação do segundo turno sem apresentar provas –de que a facção criminosa PCC teria orientado voto em Guilherme Boulos (PSOL).
Aliados dizem que acreditar o governador queira esperar a poeira baixar, mas os acontecimentos do último mês têm dificultado a estratégia.
Duas semanas após a declaração que rendeu a Tarcísio uma queixa-crime no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) –já arquivada–, o governo voltou ao centro das atenções depois que o delator Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, que estava na mira do PCC, foi assassinado no aeroporto de Guarulhos.
Outros casos envolvendo a Polícia Militar, comandada pelo governador, geraram pressão e cobrança por explicações –a morte de Ryan da Silva Andrade Santos, 4, atingido por disparos em Santos (SP), e de um estudante de medicina baleado por um policial na Vila Mariana, além da prisão de um capitão da PM em uma operação contra lavagem de dinheiro.
Questionado pela imprensa, o governador defendeu punição para o policial preso. Sobre o caso do estudante, ele chegou a se manifestar nas redes sociais, afirmando que abusos policiais não serão tolerados.
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